quarta-feira, 25 de maio de 2011

Diferença entre Síndrome de Asperger e Autismo de Alto Funcionamento

Muito se fala sobre a diferença entre Síndrome de Asperger (SA) e Autismo de Alto Funcionamento (AAF). Este breve texto busca trazer algumas contribuições sobre este assunto.

Para tentar resumir:

  • Ambos os quadros são afetados pela tríade de comprometimentos (habilidades sociais, comunicação e interesses/imaginação);
  • Em ambos a inteligência deve ser NO MÍNIMO dentro da normalidade, ou seja, não pode haver rebaixamento intelectual;
  • A diferença principal, até o momento, nos critérios diagnósticos, é que pessoas com SA, geralmente, não apresentam atraso no desenvolvimento da linguagem (isto é, aos 3 anos a criança tem que construir frases e saber se expressar com clareza).
Existem 4 características importantes que podem auxiliar no processo de diagnóstico das duas condições:

Nível de Funcionamento Cognitivo:

A visão de que a SA é "autismo" mas sem dificuldades de aprendizagem pode ser útil do ponto de vista do diagnóstico, já que facilita a distinção entre os quadros. Entretanto, o próprio Hans Asperger disse que podem haver situações "não usuais"em que uma pessoa pode apresentar sintomas da SA com alguma dificuldade de aprendizagem. É largamente reconhecido que no AAF o QI não pode ser inferior a 65 - 70.

Habilidades Motoras:

Nos últimos anos, a visão de que as pessoas com SA apresentam também dificuldades com coordenação motora se tornou mais forte. O próprio Hans Asperger tinha conhecimento da prevalência de dificuldades nas habilidades motoras no grupo de pacientes que ele descreveu. Parece consenso de que a maioria das crianças com SA experienciam coordenação motora fina pobre. Entretanto, muitas crianças com AAF também terão dificuldades nesta área.

Desenvolvimento da Linguagem:

Esta é a área que causa maior controvérsia. Tanto o CID 10 quanto o DSM IV afirmam que para o diagnóstico de SA o desenvolvimento da linguagem deve ser normal. Crianças com AAF podem ter tido atrasos significativos no desenvolvimento da linguagem. Porém, nas descrições originais de Asperger ele relatou que peculiaridades na fala e discurso destas crianças são características chave da SA. Geralmente, o diagnóstico de SA é feito quando a criança é um pouco mais velha, e os pais podem não lembrar de detalhes do desenvolvimento da linguagem do(a) filho(a).

Idade de Início

Um diagnóstico de AAF e outro de SA podem ser dados a um mesmo indivíduo em diferentes etapas do desenvolvimento. Ocasionalmente uma criança pode receber um diagnóstico de AAF na primeira infância, e este diagnóstico pode ser mudado para SA quando ela inicia na escolarização formal. Alguns clínicos de diagnóstico são diretos em afirmar que o diagnóstico de SA não pode ser feito antes da criança iniciar a escolarização formal (primeiro ano do Ensino Fundamental). Isto acontece porque dificuldades nas habilidades sociais podem não ser ainda evidentes até que a criança tenha bastante envolvimento em situações sociais.




terça-feira, 12 de abril de 2011

Diagnóstico Precoce de Autismo


Olá!


Estava relendo uma matéria sobre Autismo da Revista Crescer de 2007. E detalhe: tirando pequenos detalhes, a reportagem ainda vale para hoje, 4 anos depois!


Eu trabalho muito fazendo diagnóstico de crianças com suspeita de Autismo, portante vale sempre lembrar: quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de a criança se desenvolver e ficar com um funcionamento típico!


Existem alguns instrumentos (testes e escalas) que nós psicólogos usamos para saber se a criança tem traços de Autismo (ou de Espectro do Autismo) que podem forcener o diagnóstico com maior confiança.


Segue abaixo a reportagem:


Autismo: universo ao meu redor

Ter um filho autista não é culpa dos pais. Mas é preciso estar atento, já que, quanto mais cedo a doença for diagnosticada, melhor.


Dez/07 - Nem os chamados da mãe faziam a pequena Rafaela sair do seu mundinho. Com 1 ano e 3meses, ela começou a mudar de comportamento e deixou de se comunicar. Ainda batia palmas quando via um comercial na televisão, andava de um lado para outro, mas agia como se não conseguisse ouvir os pais e não emitia palavra nenhuma. Com poucos meses de vida, Jaqueline também passou a se comportar deforma diferente dos demais bebês. Demorou para sentar, falar, andar. Tanto Danielle Nery Lins, mãe de Rafaela, quanto Nilvana dos Santos, mãe de Jaqueline, percorreram uma infinidade de médicos à procura de respostas.


Danielle ouviu o diagnóstico de que sua filha era autista há um ano, quando a menina tinha 2. Nilvana só descobriu o que acontecia com a sua quando ela tinha 5, em 2002. Apesar da aparente semelhança entre os casos, o que fez diferença foi a idade em que as meninas começaram a ser tratadas. “O diagnóstico antes dos 3 anos de idade dá mais possibilidade de modular e interferir na estrutura do cérebro da criança”, diz Adailton Pontes, neurologista infantil. “Se a doença é descoberta tardiamente, a criança pode não aprender a falar ou ter mais dificuldade para ter autonomia, por exemplo”, afirma o psicanalista infantil Estevão.


Danielle deixou o emprego para se dedicar a Rafaela. Ela não sabia o que era a doença nem que a filha, estimulada, poderia um dia interagir com os pais. “Minha filha não dizia nada, não se comunicava”, diz. A menina ainda não fala direito, mas vai à terapia e ao fonoaudiólogo e mostra progressos rápidos: passou a se comunicar com os pais, largou a fralda diurna, vai ao banheiro sozinha e sabe mexer no aparelho de DVD. “Ela está se desenvolvendo bastante.” Jaqueline acompanha a mãe ao supermercado e ajuda nos cuidados da casa. “Tudo o que queria que minha filha fizesse, ela faz. Demorou mais, porque o diagnóstico foi tarde, mas deu certo”, diz Nilvana. A primeira pergunta que fez ao saber da doença foi: ela vai morrer? Ao saber que um autista sem outros problemas vive tanto quanto alguém que não tenha a doença, ela decidiu acompanhar o tratamento da filha e também parou de trabalhar. Optou por deixar Jaqueline em uma escola regular. Apesar de não demonstrar muito interesse pelas aulas e de apresentar dificuldade com as letras, a menina foi alfabetizada.


Quanto mais cedo a doença é detectada, mais possibilidades a criança tem de se desenvolver. Por conta disso, a comunidade científica tem como objetivo especificar as causas da síndrome e reduzir o diagnóstico para 1 ano de idade. Pesquisadores do Instituto Kennedy Krieger, em Baltimore, nos Estados Unidos, avaliaram bebês do 14º ao 36º mês e descobriram que ao menos metade das crianças com autismo poderia ser reconhecida no primeiro ano de vida.


O que faz desse processo uma batalha é a complexa estrutura da doença, um transtorno definido pela presença de desenvolvimento anormal ou parcial da interação social e pelos problemas de comunicação, além da presença de um comportamento restrito e repetitivo. O autismo não tem uma causa definida, podendo ser desde uma inflamação que ocorre no sistema nervoso do feto durante a gravidez, ainda sem explicação científica, até a herança genética. Neste caso,os traços do autismo podem estar em vários membros da família. A doença, em alguns pacientes, também é acompanhada de outra síndrome associada, como Down ou X-frágil.


A única certeza é que os pais não têm culpa do filho ter nascido autista. Quando a doença foi descoberta, a psicanálise culpava a família pelo transtorno. Diziam que era o modo de vida e a maneira como cuidavam da criança que causava o autismo. A ciência descobriu, depois, que essa não é uma doença psicológica.


Sem um diagnóstico clínico preciso, é difícil saber a quantidade de autistas no mundo. No Brasil, por exemplo, fala-se em 170 mil. Mas os números são subestimados. Calcula-se que 1 milhão de brasileiros tenha algum grau da doença, que possui dezenas de subtipos. É esse grau que determina que habilidades uma pessoa com autismo conseguirá desenvolver quando estimulada. Segundo os especialistas, 30% das crianças terão um bom desenvolvimento intelectual, podendo entrar na faculdade, conseguir emprego, dirigir. A escola regular, no entanto, não vai ser a melhor opção em todos os casos porque a criança autista precisa de atenção especial. A decisão pelo tipo de colégio, ou até por aulas particulares, deve ser tomada pela família em conjunto com o médico.


Preste atenção!!!


Estas mudanças comportamentais são comuns em autistas, mas não é necessário que a criança apresente todas para ter a doença. O inverso também vale: uma criança que tenha alguns não é necessariamente autista. O importante é ver a freqüência com que acontecem e procurar um médico. Quem dá o diagnóstico é o especialista.


- Têm hábitos alimentares seletivos, com restrição à consistência

- Não olham na mesma direção que os outros

- Não se jogam no colo da mãe quando ela estende os braços, por exemplo

- Mexem os dedos em frente aos olhos

- Têm aversão ao contato físico e tendência a se isolar

- Podem ter hipersensibilidade auditiva

- Não gostam de ambientes com muita gente

- Usam outras pessoas como ferramentas, como pegar a mão de alguém para abrir a porta

- Cometem auto-agressão

- Objetos que produzam movimentos repetitivos captam a atenção, como ventiladores.



quinta-feira, 31 de março de 2011

Notícia sobre Autismo


Olá,


Acabei de ler essa notícia sobre Autismo.


Legal saber que existem várias pesquisas no mundo todo tentando achar novos tratamentos mais eficazes, pois infelizmente ainda não há nenhuma medicação totalmente eficaz para pessoas no Espectro to Autismo.


Uma investigação levada a cabo por cientistas portugueses e norte-americanos indica que os distúrbios de comportamento ligados ao autismo podem ser desencadeados por uma proteína integrada no processo de comunicação entre neurónios (sinapses).


O gene que controla a produção da proteína Shank3 foi mutado num grupo de ratos de laboratório. "O que observámos é que os ratinhos com Shank3 mutado exibem comportamentos repetitivos, mostram altos níveis de 'ansiedade' e evitam o contacto social com outros ratinhos", explicou ao jornal Público a investigadora Cátia Feliciano.


Espera-se que esta descoberta leve à criação dos primeiros medicamentos eficazes no controlo do autismo, explica João Peça, outros dos investigadores lusos envolvidos no estudo, já publicado na revista Nature. "Em termos de tratamento será agora importante identificar se efectivamente disfunções no striatum [área do cérebro mais afetada nos animais analisados] são um ponto em comum no autismo. Um dos principais focos da nossa investigação será perceber como modular este circuito", acrescenta.


A equipe de especialistas vai prosseguir a investigação em ratos de laboratório, estando ainda algo distante a possibilidade de replicá-la em humanos. Segundo a Federação Portuguesa de Autismo, por cada 10 mil pessoas, 10 têm autismo e 2,5 têm síndroma de Asperger.


Estudos desenvolvidos em Portugal apontam para números semelhantes [dados referentes a 2006]. As perturbações do espectro do autismo incluem uma série de distúrbios, como deficiências na comunicação e ao nível das interacções sociais, interesses restritivos e comportamentos repetitivos.


[Notícia sugerida pela utilizadora Raquel Baêta]


quarta-feira, 9 de março de 2011

Dia Mundial da Conscientização do Autismo


Oi gente,


Só pra lembrar que dia 02 de abril é o Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo.


Estamos vendo o que vamos fazer em Florianópolis ainda.


Segue abaixo o cartaz.

sábado, 5 de março de 2011

Livro novo sobre Autismo


Estou lendo um livro ótimo sobre Autismo, na verdade estou bem no começo. Chama-se "Autismo, um mundo obscuro e conturbado".

O autor faz um resgate histórico sobre o autismo, desde os tempos de Kanner e Asperger. Não que isso seja novidade para quem é da área, mas o autor escreve de uma forma fascinante!

Fala também da evolução dos conceitos ligados so Autismo, da psicopatologia e da psiquiatria.

O autor é antropólogo e tem uma filha autista. Parece que é um best seller mundial. E eu assino em baixo!

Autor: Roy Richard Grinker
Editora: Larousse

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Diagnóstico de Síndrome de Asperger

O diagnóstico de Síndrome de Asperger (SA) é bastante complexo, já que envolve avaliações de algumas áreas de habilidades. É bastante comum só tornar-se evidente na adolescência.

Seguem abaixo os principais indicadores da SA, sendo que se alguém apresenta a maioria destas características deve procurar algum especialista para confirmar ou não o diagnóstico. É importante lembrar que estas características variam muito de uma pessoa para outra, mas geralmente são divididas em 3 grupos:


Comunicação
  • Dificuldades de entender gestos, expressões faciais e tom de voz;
  • Dificuldade de saber quando começar ou terminar uma conversa, e escolher assuntos para conversar;
  • Uso de palavras e frases complexas, talvez sem total entendimento do que querem dizer;
  • Entendimento literal e dificuldades de entender piadas, metáforas e sarcasmo.

Interação Social

  • Dificuldades para fazer e manter amizades;
  • Dififuldades de entendimento de regras sociais implícitas, que a maioria das pessoas ocorre de forma intuitiva. Exemplo: ficar muito perto de alguém quando conversando, falar sobre um tópico inapropriado numa conversa;
  • Achar outras pessoas imprevisíveis e confusas;
  • Isolamento social, com pouco interesse nas pessoas, aparentando ser muito reservado;
  • Comportamento considerado "estranho" e inapropriado.

Imaginação

  • Dificuldades para descobrir "saídas"de situações e para predizer o que vai acontecer;
  • Dififuldades para entender ou interpetrar pensamentos, idéias ou ações de outras pessoas;
  • Limitações em atividades imaginativas, geralmente há repetição de poucas atividades, tais como colecionar e organizar coisas de seu interesse.
  • Ausência de brincadeiras/atividades de faz-de-conta, com pouca simbolização.

É importante lembrar que nem todas estas características precisam estar presentes, é o conjunto estas características de forma qualitativa e quantitativa que fornecerá o diagnóstico.

Existem algumas pessoas famosas que suspeita-se terem SA, tais como Bill Gates, Albert Einstein, Isaac Newton, Wolfgang Mozart, Dan Aykroyd, Woody Allen.

Fontes: http://www.autism.org.uk/

http://www.asperger-syndrome.me.uk/

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Curso "Improving the Skills of Children with Asperger's Syndrome"


Oi pessoal,


Finalmente vou postar um pouco do conteúdo que peguei no curso sobre Síndrome de Asperger (SA), com o Professor Colin Troy.


Na SA existe uma grande variação de sintomas, de indivíduos com dificuldades nas áreas de habilidades sociais e comunicação mas com leve grau de dificuldades de aprendizagem, até os que podem ter comportamento idiossincrático mas sem dificuldades de aprendizagem.


Existe uma tríade de comprometimentos: 1) na comunicação, 2) interação social, 3) inflexibilidade de pensamento.


Na comunicação, pode existir: processamento pobre da linguagem, entendimento literal, falta de flexibilidade no uso da linguagem, dificuldade de entender o contexto, falta de conhecimento do impacto da linguagem.


Na interação social pode ocorrer: falta de entendimento da linguagem corporal, inabilidade de "ler" as expressões faciais, não entendimento de contextos sociais, egocentrismo em situações sociais.


E na inflexibilidade de pensamento: falta de empatia, falta de Teoria da Mente (TOM), dificuldade em predizer comportamentos, pouca aceitação de mudanças na rotina, obsessões e interesses fatuais e pontuais.


Outros sintomas incluem: hiperatividade, rituais/estereotipias, interesses restritos, sensibilidade a estímulos sensoriais, medos irracionais, linguagem pedante, auto e hetero agressividade, sono e alimentação problemáticos.


Deve-se sempre trabalhar com as áreas que estão mais defasadas em relação a crianças com desenvolvimento típico.


Podem apresentar altos níveis de ansiedade. Nestes casos pode se utilizar objetos que os acalmam.


Algumas crianças com SA podem ser muito controladoras, mas não se deve deixar que a criança controle o funcionamento familiar.


Deve-se dar poucas opções de escolha (no máximo 2 ítens), para evitar aumentar ansiedade e facilitar o processo.


Importante também trabalhar o aumento da tolerência, já que muitos apresentam baixa tolerância a frustração.


Podem passar a imagem de insensíveis, já que tendem a ter relacionamentos mais funcionais do que afetivos.




Por enquanto é só!


Depois continuo postando.




quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Cursos

Olá!

Tive a oportunidade de fazer 2 cursos em Londres, um sobre Síndrome de Asperger, outro sobre Espectro do Autismo... Final de semana vou postar colocando o resumo do que aprendi nos dois cursos, ok?

Vou tentar postar com mais freqüência aqui também!

Um abraço,

Gisele

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Brasileiro encontra caminho para cura de 90% dos tipos de autismo, além de Rett.

Notícia muuuuuuito importante para todos os interessados em Autismo!!!

Dá esperança a todos nós!!!


Brasileiro encontra caminho para cura de 90% dos tipos de autismo, além de Rett.

Por Paiva Junior

Sim, 90% dos tipos de autismo têm causas genéticas e poderão ser curados num futuro (que desejamos ser próximo), assim como a Síndrome de Rett. A conclusão é do neurocientista Alysson Muotri, que trabalha na pesquisa da cura do autismo nos EUA.

Em entrevista exclusiva com o neurocientista, que trabalha e reside em San Diego, na California, foi possível entender melhor o que a mídia mundial noticiou há três semanas: uma esperança para a cura do autismo. Aliás, as palavras “cura” e “autismo” jamais estiveram juntas na história da ciência. Só por esse fator, o trabalho já é um marco. Além de Alysson, os neurocientistas Carol Marchetto e Cassiano Carromeu formam o talentoso trio brasileiro que lidera esse trabalho.

Todas as reportagens citavam a cura do autismo. As mais detalhadas, porém, diziam que o tipo de autismo era a síndrome de Rett apenas. Sem entrar na discussão de Rett estar ou não incluída no espectro autista, isso incomodou muita gente e algumas pessoas que se animaram com a notícia se desapontaram ao saber que o trabalho foi feito apenas com essa síndrome -- que afeta quase que somente meninas (pois os meninos afetados morrem precocemente). Muitos diziam: “síndrome de Rett não é autismo!”. Então de nada valeria a pesquisa para os autistas.
Certo? Errado.

Alysson não gosta de comentar trabalhos ainda não publicados, porém me revelou com exclusividade que seu próximo trabalho é exatamente o mesmo feito com síndrome de Rett, porém utilizando pacientes com autismo clássico, que deverá ser publicado em algum momento de 2011.
E ainda adiantou que os resultados de um subgrupo dessa pesquisa foi o mesmo que conseguiu com os Rett: “os sintomas são similares aos de Rett, mas ainda não tentamos a reversão propriamente dita, mas acreditamos que deva funcionar da mesma forma; os experimentos estão incubando; tudo isso é muito recente ainda. E a filosofia é a mesma: se curar um neurônio, ele acredita que poderá curar o cérebro todo.
Quando perguntei se ele já sabe onde será publicado esse trabalho e se tinha mais detalhes, a resposta foi imediata: “Não, ainda é muito cedo, precisamos terminar uma serie de experimentos”. Essa nova pesquisa envolveu vinte pacientes com autismo clássico. “Em alguns casos conseguimos descobrir a causa genética, o que facilita mais a interpretação dos dados”, explicou o brasileiro. Aliás, segundo ele, seria possível identificar o autismo em um exame, usando essa mesma técnica, mas isso hoje seria imensamente caro e complexo, portanto ainda inviável.

A droga para essa possível cura, possivelmente uma pílula, segundo Alysson deve vir em cinco ou dez anos, mas ele adverte: “Não se esqueça que a ciência muitas vezes dá um salto com grandes descobertas. Previ que este meu estudo demoraria uns dez anos e consegui fazê-lo em três anos”, explicou ele, referindo-se à descoberta do japonês Yamanaka de fazer uma célula “voltar no tempo” e reprogramá-la (veja explicação neste link), o que “acelerou” o trabalho do neurocientista.

Outra informação importante revelada por Alysson foi que ainda não se sabe como se comportará o cérebro quando curado do autismo. Tanto a pessoa pode simplesmente “acordar” do estado autista e passar a ter desenvolvimento típico (“normal”), como pode dar um “reset” no cérebro e ter que aprender tudo de novo, do zero, mas aprendendo naturalmente como as crianças neurotípicas (com desenvolvimento “normal”). Pode ser que a pessoa “curada” de autismo passe a ter outros gostos e interesses e até perder algumas habilidades que tinha antes, supõe o pesquisador brasileiro, que ainda tem um longo caminho pela frente no aprimoramento da sua técnica e na busca pela droga mais eficiente, que é o próximo passo das pesquisas. “É um trabalho importante, pois hoje há 1 autista para cada 105 crianças nos EUA”, informa ele.

INTERESSE DA INDÚSTRIA

Por último, ele revelou na entrevista que a indústria farmacêutica já o procurou, mas o laboratório vai seguir de forma independente também, com menos investimento, mas sem muito medo de riscos na busca pela cura definitiva do autismo para todas as idades, que é o desejo do palmeirense Alysson Muotri.

Esses laços evidentes com o país natal, faz o cientista “investir” em ajudar e incluir o Brasil nas pesquisas. Há uma parceria dele com uma equipe da USP (Universidade de São Paulo). A bióloga Karina Griesi Oliveira, passou um ano com os brasileiros na California aprendendo essa nova técnica de reprogramação celular (leia mais neste link da revista Pesquisa, da Fapesp). “Com colaboração da Karina, estamos também trabalhando com alguns pacientes brasileiros”, destacou o paulistano, que também graduou-se na USP.

Muitos dados citados na entrevista, como a estatística de 1 para 105 ainda nem foram publicados, pois, como diz Alysson, estamos lidando aqui com a “nata” da ciência: É a “cutting-edge science”, definiu ele, em inglês. “Esse número foi divulgado na ultima reunião da Sociedade de Neurociências, realizada em novembro de 2010, em San Diego (EUA)”, contou ele, que lidera onze pessoas em sua equipe, que, em alguns momentos, chegou a ter vinte integrantes.
Os detalhes da pesquisa estão na coluna quinzenal "Espiral" de Alysson no portal G1 e a minha entrevista exclusiva completa com o neurocientista brasileiro -- que durou uma hora e dez minutos -- você poderá ler, na íntegra, na próxima edição da Revista Autismo, que sai no primeiro trimestre de 2011 -- valerá a pena aguardar!
Talvez hoje ainda não possamos dizer que o autismo é curável. Mas agora também não se pode mais dar a certeza de que seja incurável.

Paiva Junior é editor-chefe da Revista Autismo e entrevistou Alysson Muotri, por telefone, no dia 02.dez.2010.

Fonte: http://revistaautismo.com.br/

sábado, 20 de novembro de 2010

Temple Grandin, a autista Ph.D


Temple nasceu autista, coisa que na época ninguém conhecia muito bem. Seu jeito peculiar de pensar e seu comportamento antissocial e agressivo eram mal vistos por professores e colegas de escola na infância. Frequentemente brigava com outras crianças. Ela tinha dificuldade de aprender certas coisas, porque as coisas para ela seguiam uma lógica particular. A única coisa que podia deixar Temple mais calma era um abraço forte, mas ela não conseguia dizer isso nem a sua mãe.


A necessidade inexpressa de ser abraçada deu a ela uma ideia fixa: ela tinha de construir a máquina do abraço. Dona de uma habilidade espetacular de visualizar formas que nunca tinha visto (Temple diz sempre que o autista pensa em imagens), ainda adolescente ela começou a projetar em sua mente um equipamento que fosse capaz de apertá-la até o alívio de suas tensões. E não sossegaria até pôr sua ideia em prática. “As fixações podem ser canalizadas para fins construtivos. Remover a fixação pode ser uma imprudência”, diz Temple em sua autobiografia Uma menina Estranha (Cia. das Letras, 1999).


Sem conhecimento técnico prévio, Temple desconfiou que o brete, um aparelho usado no manejo de gado, pudesse ser adaptado para ela. O brete era um aparelho rústico que, apertado ao corpo do animal, mantinha-o calmo antes do abate. Temple sabia que era disso que precisava. Então resolveu testar. Entrou no aparelho como se fosse um boi, puxou suas cordas e sentiu um alívio que desejara por anos. A partir daí, com o apoio de um professor no colégio rural em que estudava, Temple dedicou-se ao estudo do bem-estar animal, e também ao seu próprio. Anos mais tarde, após vários cursos superiores, tornou-se uma das maiores especialistas em abate humanitário, e também uma grande entenderora do autismo. “Paradoxalmente, era no matadouro que eu estava aprendendo a dar afeto”, escreveu Temple.


O filme conta toda essa história e ainda mostra como Temple via a realidade e as imagens em sua mente. A bela atriz Claire Danes ficou irreconhecível para encarnar Temple na telinha, mas, segundo a própria senhora Temple, que deu entrevistas direto do tapete vermelho no dia da premiação, ficou idêntica à original. Ainda não assisti, mas recomendo pela tremenda lição que Temple nos oferece sobre as riquezas que podem existir mesmo onde não estamos acostumados a enxergá-las.


Dados:Revista Época